Postado 1 de junho de 2024 em Viva!Vet por Viva!Verde
A proximidade de seres humanos com os felinos domésticos cresce consideravelmente e dados recentes do Brasil, por exemplo, mostram que a população de gatos domésticos aumenta de forma expressiva. Devido a isso, o conhecimento do comportamento de excreção dos gatos domésticos é imprescindível para auxiliar tutores e profissionais que cuidam cotidianamente destes animais (Nunes e Soares 2018).
Dentre os diversos comportamentos dos felinos, a excreção parece ter um papel importante na comunicação entre os animais e tem sido objeto de estudo há anos por vários pesquisadores, principalmente, para o entendimento da biologia e ecologia destes animais, já que, fezes e urina fora do local, costuma ser um incômodo notável aos tutores. (Bateson 1994, Feldman 1994, Bradshaw 1999, Bradshaw e Cameron 2000, Bradshaw 2000, Rochlitz 2000, Macdonald e Loveridge 2010).
Os gatos são sociais facultativos, ou seja, eles possuem comportamentos compartilhados com outros gatos, mas também necessitam de oportunidades de exibirem comportamentos solitários, como o de excreção por exemplo, o que significa que, os felinos não deveriam se encontrar quando necessitam usar o banheiro, em nenhuma hipótese, e normalmente se comunicam pelo cheiro das excretas, mostrando como cuidar da disposição das caixas de areia, como o tamanho dela, a quantidade, o tipo de areia e a forma de limpeza são extremamente importantes (Bradshaw 2018).
O sistema olfativo dos felinos consiste em um grande epitélio protegido por fina camada de muco, por onde passam, passivamente, moléculas de substâncias odoríferas, antes que atinjam os receptores do bulbo olfativo. Os gatos dependem do olfato para a detecção de odores e comunicação. Além disso, com exceção dos primatas, muitos mamíferos possuem o órgão vômeronasal (órgão de Jacobson) conectado a cavidade oral e nasal por meio do canal nasopalatino. Este órgão pode estar associado ao comportamento social, através da resposta de Flehmen na detecção, em maior parte, de feromônios (Bradshaw e Cameron 2000).
As fezes dos felinos têm importante papel de comunicação social, quando depositado aleatoriamente mostra a área de vida individual ou de um grupo. As fezes são usadas como marcas territoriais quando depositadas pequenos volumes em locais de destaque tais como junções de trilhas, rochas, troncos ou ninhos de cupins. Os papéis que as marcas odoríferas podem desempenhar são bem conhecidos e incluem a defesa do território, indicadores de status social e reprodutivo, identificação de indivíduos, grupos e espécies, prevenção de encontros agonísticos, e condições imunológicas e fisiológicas (Zala et al. 2004, Piñeiro e Barja 2012), viu como fazer xixi e coco para os gatos, é tão importante e pode simbolizar tanta coisa?
É possível observar a relação de vulnerabilidade com o porte dos felinos, quanto menor o porte, maior o gasto energético com o ato de enterrar buscando não ser visto por possíveis predadores e presas. Tem sido relatado diferenças na proporção de encontros de fezes de fêmeas e machos de puma, jaguar e onça; os machos viajam depositando maior número de fezes em trilhas e estradas enquanto as fêmeas são mais territorialistas. Portanto, uma concentração bem menor de fezes são encontradas em trilhas (Logan e Sweanor 2009).
É esperado que a marcação com fezes de uma área territorial corresponda às fronteiras de alcance e fique exposto, com espaço relativamente limitado. Eliminação fora do núcleo pode exigir alguma aglomeração de fezes mais próximo do perímetro (Feldman 1994). Gatos tendem a urinar e defecar longe da alimentação, áreas (> 10 m), em última análise, minimizando a contaminação (Feldman, 1994).
O comportamento de enterrar fezes também pode reduzir a detecção. Por outro lado, um macho adulto pode demonstrar seu domínio e, assim, reduzir o grau de invasão tanto de residentes como de imigrantes. Residentes de longa duração têm a oportunidade de cobrir uma área com marcas de cheiro, dando aos invasores em potencial ampla oportunidade de recuar antes que haja um encontro com risco de vida (Logan e Sweanor 2009).
Um estudo sobre gatos ferais sugeriu que indivíduos dominantes e subordinados diferem, com dominantes deixando mais fezes expostas. No mesmo estudo, não foram observadas fezes totalmente expostas, consistente com a sugestão de que as fezes são marcadores territoriais; no entanto, nenhum padrão claro foi discernível. Em geral, há menos suporte para o uso de fezes como marcadores por gatos domésticos, mas de fato, eles não defecam próximo a área de alimentação tão menos deixam as fezes expostas sem um propósito (Feldman 1994). Feldman ainda sugere que gatos domésticos tendem a cobrir ou enterrar fezes, especialmente perto da área de convívio social, mas pode deixá-los expostos, embora não seja o comportamento esperado, principalmente em situações de vulnerabilidade, disputa de recurso e interações agonísticas, bem como um banheiro e/ou areia inapropriadas.
Historicamente os gatos domésticos buscam um granulado que remeta a areia, sem cheiro e em abundância para enterrar suas fezes. Porém, domiciliados, foi necessária uma adaptação aceitável para o convívio juntamente com a família e seus hábitos tradicionais. As excretas dos felinos tornaram-se um problema de convívio (Zoran e Buffington 2011). Em 1940, os tutores podiam ir a uma loja de animais e comprar o primeiro banheiro de gatos “E-Z Klean Kitty”, uma panela de metal esmaltada forrada com papel, normalmente preenchida com terra, areia, cinzas ou jornais. O odor associado à urina e fezes ocasionou o retorno de muitos gatos as ruas. (https://disposableamerica.org/cat-litter/edward-lowe/).
Em 1947, um acidente proporcionou à Edward Lowe a possibilidade de desenvolver um substrato semelhante ao natural (Figura 1), a argila granulada inicialmente comercializada como material de nidificação para galinhas, após isso, várias empresas começaram a criar granulados de argila e outros materiais, permitindo ao gato excretar e permanecer no convívio doméstico. Desde então, foi assumido que uma caixa de areia com granulado é o ideal para gatos e tutores (https://disposableamerica.org/cat- litter/edward-lowe/).
Conforme a evolução dos tempos proporcionou melhorias, várias formas de areia foram comercializadas pensando em atender melhor essa necessidade de excreção tão singular dos gatos, por isso, estar atento aos dados da domesticação que a história nos traz, e como desde então felinos saudáveis buscam areia fina, sem cheiro e que forme torrão bem duro para melhor higienização das caixas, é fundamental. Isso proporciona bem-estar e cuida para deixar cada vez mais longe, doenças clínicas e comportamentais.